No início de março, e perante uma peste que “desta vez é mesmo a sério”, já denunciava “graves falhas, erros e omissões” na condução de medidas que, se atempada e corretamente aplicadas no combate ao covid-19, teriam evitado imensos prejuízos.
Também a “impreparação da classe dirigente à escala global”, e a sua “total submissão a interesses político-económicos dominantes”, me mereceram duros comentários. Em dezenas de textos, incluí no lote várias universidades e revistas científicas, a OMS e até a nossa DGS, que antes cria insuspeitas.
Logo em abril, e sem ainda ter falhado uma só sugestão ou previsão, já agradecia o contributo de eméritos colegas com quem trocava ideias e resumia a “dez pecados capitais” os inúmeros problemas que ainda procurava mitigar:
1 – O crescente poderio da indústria farmacêutica, centrada na investigação de fármacos dispendiosos e sem eficácia clínica comprovada.
2 – O eclipse da comunidade científica e médica que, na dependência deste poderoso lóbi, tardou em trocar ciência e conjugar esforços.
3 – A falta de “munições”, tais como as máscaras e o gel, esgotados no nosso país ainda antes do primeiro “tiro”.
4 – A tónica na ventilação assistida, de inglório alcance clínico, e não em limitar complicações talvez evitáveis com cloroquina (tese que se diluiu em política), cortisona e outros antivirais já existentes.
5 – A obsessão da imprensa pelas vacinas, uma longínqua miragem ainda que “aldrabando” regras.
6 – O desfasamento de uma comunicação social focada na intriga política e que, para “evitar o alarme social”, adiou por meses a sua formação e conhecimento.
7 – A dependência de técnicos responsáveis que, submetidos à “voz do dono”, não garantiram uma eficaz coordenação no combate à pandemia.
8 – A insistência na ideia de que o SNS era a primeira linha de defesa, em desprimor da formação sanitária das populações, incluindo transportadores, proteção civil e forças de segurança.
9 – As assimetrias regionais, as práticas clínicas diferentes e até o caos instalado nas estatísticas oficiais.
10 – E, finalmente, o atraso na declaração do estado de emergência e, sobretudo, na aplicação de planos de contingência: desde os lares às prisões, desde as escolas aos infantários e ao Palácio de Belém.
Sem qualquer êxito promovi a minha “campanha” porque, tal como eu banidos por uma comunicação social comprada a peso de ouro, e que meses depois investia em “vedetas” milionárias, cedo assistimos ao “saneamento” de quantos ousaram pôr dedos em feridas. E nem o mergulho numa noite tenebrosa, nem o desempenho das redes sociais e de alguma pequena imprensa, conseguiram evitar que a atual “sociedade do conhecimento” continue a escrever uma das maiores tragédias da História da Humanidade.
Há meses a pregar no deserto, dias há em que até perco a vontade de escrever, tais os horrores a que assisto: um número assustador de desempregados enquanto figurões acumulam subsídios, os terramotos que abalam o SNS e a Educação e os novos “romances” da EDP e do Novo Banco, a que podemos juntar vários “filmes” que passam numa Administração Pública tão incompetente, como insustentável.
Um “amigo dos jornais” explicou-me há dias que, embora técnica e pessoalmente inatacável, eu só sou silenciado por falta de “credibilidade política”.
Posto assim a matutar, lembrei-me do Presidente da República.
Será credível que, tira ou põe máscara para animar “selfies”, tenha andado ontem pelas praias a repartir bolos à mão, pela criançada?
Ou, notícia de hoje, tenha ido almoçar, secretamente, a Castela com o rei de todas as Espanhas que, “naturalmente”, incluem Portugal?
E terá pedido autorização para sair do país à Assembleia da Republica?
Será politicamente correto, sensato e inteligente, o Supremo Magistrado da Nação “desenfiar-se” de Portugal, “sem passar cavaco às tropas”?