A Câmara Municipal de Sintra firmou um contrato com a empresa Triunvirato-Bar, Restaurante e Comércio de Artigos Regionais Lda-, com vista à “aquisição” de espetáculos genericamente denominados Taverna dos Trovadores TV. É assim que a coisa vem explicada no ficheiro do site base.gov.pt onde, por obrigação legal, constam todos os contratos firmados por entidades públicas.
Trocando por miúdos, trata-se da contratação desta taberna para a realização de espetáculos a serem emitidos online. O mesmo fizeram outras autarquias, neste periodo em que não houve espetáculos ao vivo devido às regras definidas no combate à pandemia covid-19.
A referida taberna e a Câmara Municipal de Sintra têm tido um relacionamento que perdura no tempo. Este contrato que mencionamos é já o nono estabelecido entre as duas partes, desde 2016. Conforme podem verificar no documento que partilhamos, além da aquisição de espetáculos temos, também, refeições, por exemplo. É o que se chama serviço completo, quase um banquete, uma vez que falamos de uma taberna.
Estes nove contratos somam 71203,76 €, o que não é uma quantia que impressione, mas evidenciam o previlégio que beneficia os amigos dos dirigentes máximos da Câmara Municipal de Sintra. Quantos restaurantes similares existem em Sintra, com boa comida e música ao vivo, e com quais a autarquia terá feito contratos idênticos?
Numa pesquisa sumária no Facebook, encontramos o Orixas. Espaço amplo, música ao vivo às sextas e sábados. Anunciam agora o artista Sérgio Mota a cantar das 20h-23h. Mas se calhar os decisores autárquicos não apreciam música brasileira.
Novo click e vamos parar ao Xentra. Música ao vivo, também, bom ambiente, mas nenhum contrato com a CMS, aparentemente. Nenhuma fotografia a dar conta da presença de Basílio Horta ou do vice.
Para não tornar isto muito cansativo, só mais um exemplo: Casa do Fauno. Não há sítio mais português, anuncia-se assim: “No seio da Serra de Sintra, terra medieval e de criaturas míticas, nasce o Pub Medieval Casa do Fauno. A magia, o fantástico e as memórias de um passado distante unem-se aqui. O reencontro de guerreiros, aventureiros, poetas e jograis.” Talvez os autarcas não se revejam nestes grupos socio-profissionais… deve ser por isso.
Então, o que é que a Taverna dos Trovadores tem que os outros não têm? Bom, provavelmente foram os únicos a apresentar um projeto de transmissão online dos serões musicais, admitimos. Mas tal facto, a ter sido considerado boa ideia pela autarquia, não impedia que a ação fosse estendida a outros bares e restaurantes que, à partida, têm as mesmas condições e ADN para organizar espetáculos musicais passíveis de serem exibidos nas redes sociais, em direto ou gravados.
Estender a iniciativa a outros espaços com características semelhantes teria sido bom serviço público para os munícipes e ação meritória no apoio a setores tão prejudicados pelos efeitos da pandemia covid-19: restauração, artistas musicais e cantores. Assim, parece favorecimento.
A escolha da Taverna dos Trovadores não se deve unicamente às características do espaço nem ao tipo de música que apresenta habitualmente. Mas, pode-se dar o caso dos autarcas sintrenses serem mais amigos de uns do que de outros.
Todas as fotografias utilizadas foram retiradas do Facebook onde se encontram sem quaisquer restrições de acesso ou partilha.