Uma investigação conjunta da Universidade do Minho e do Instituto Politécnico de Viseu dá conta de que o distrito com maior número de registos de espécies arboricolas classificadas como de interesse público é Lisboa.
O estatuto de “árvore de interesse público” é algo semelhante ao de monumento nacional e obriga as autoridades locais a tomar medidas de proteção como, por exemplo, uma zona de salvaguarda num círculo de 50 metros ao seu redor.
O registo nacional de “arvoredo de interesse público” tem cerca de 400 identificações, das quais quase metade estão em Lisboa.
Os investigadores que publicaram o estudo estranham a ausência de várias regiões do país e a concentração de casos em Lisboa, o que significa que se pode estar a perder “oportunidades de valorização de património público e privado de elevadíssimo valor ecológico, paisagístico, histórico e religioso”, principalmente nas regiões mais florestadas do país. A explicação estará não só na falta de atenção e interesse em incluir eventuais existências dessas árvores no inventário nacional mas, também, no desaparecimento das espécies autoctones da floresta substituidas por eucaliptos.
Segundo Paulo Reis Mourão, professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, e Vítor Martinho, do Instituto Politécnico de Viseu, “este desequilíbrio geográfico pode dever-se a questões culturais, económicas ou de viés dos técnicos florestais”. Segundo o estudo, esta iniciativa tem ocorrido sobretudo em municípios que são antigos, costeiros, capitais de distrito e têm boa dinâmica turística, o que não significa que em locais mais remotos do interior não existam exemplares arboricolas dignos de integrar o inventário das árvores de “interesse público”. Os critérios de seleção do arvoredo abrangem o seu porte, idade, raridade e simbolismo.
O estudo foi agora publicado na revista científica “Environment, Development and Sustainability”. Em Lisboa, estes exemplares raros estão quase sempre à vista de todos, como é o caso, por exemplo, do cedro-do-Buçaco, no jardim do Príncipe Real, que foi a primeira árvore classificada de interesse público em Portugal. No jardim Teófilo Braga, em Campo de Ourique, existem várias dessas árvores, uma delas uma sequóia.
Outros “monumentos vivos” de Portugal são, por exemplo, o carvalho de Calvos (Póvoa de Lanhoso), a oliveira de Pedras d’el Rei (Tavira), a alameda de freixos (Marvão), o maciço de rododentros (Vouzela) e a oliveira do Mouchão (Abrantes). Se não arderam, ainda.