Os promotores imobiliários gostam de usar termos estrangeiros, preferencialmente em língua inglesa. Assim, em vez de Vale Verde de Lisboa eles dizem Lisbon Green Valley, talvez a pensar que se safam melhor com clientes tipo “Vistos Gold” (cá está, mais um anglicismo), do que com a prata da casa.
Vem isto a propósito de um novo bairro projetado para o tal Lisbon Green Valley (integrado no afamado Belas Clube de Campo), designado “Bairro Solar, Comunidade de Autoconsumo Coletivo de Energias Renováveis”. Quer isto dizer que se trata de um bairro onde todas as casas vão produzir energia solar para autoconsumo, com a consequente redução de custos na fatura da eletricidade.
Este tipo de casas deviam ser construídas para utilização social, era um modo de beneficiar a população mais carenciada e de reduzir substancialmente o consumo de combustíveis fósseis e a produção de gases de efeito de estufa.
Mas não, o novo “Bairro Solar” vai ser para gente endinheirada, basta ver os preços de venda das habitações do Lisbon Green Valley. O apartamento mais barato custa mais de 400 mil euros, uma moradia T3 vale mais de 1 milhão e 200 mil euros. Sem painéis solares.
Se está a ponderar a possibilidade de se mudar para o “vale verde”, veja se se encaixa no perfil do residente tipo do local: “o perfil do cliente do Lisbon Green Valley são famílias com dois filhos, empresários, profissionais liberais, executivos, bem como famílias que transferem a sua residência para Portugal e que procuram a qualidade de vida e a tranquilidade em plena segurança, sem perder de vista a ligação com a natureza e a proximidade com o centro da capital, especificam os promotores.
Estendendo-se por mais de mil hectares inseridos no novo Parque Florestal da Serra da Carregueira, e localizado a 15 minutos do centro de Lisboa, o Belas Clube de Campo é atualmente morada para cerca de 800 famílias de 27 nacionalidades, contando com cerca de 2500 residentes.
“Neste primeiro bairro solar, uma moradia com nove painéis solares instalados e de 330W cada, com um total de 2.970W de potência instalada, estima-se que se obtenha uma poupança de 500 euros/ano e que se evite a emissão de quase uma tonelada de CO2 para a atmosfera por ano”, dizem os promotores do projeto.
Este projeto engloba a EDP Comercial que, além de vender os painéis solares e a respetiva instalação, também está evidentemente interessada na comercialização da energia produzida e no incremento da sua carteira de clientes bem sucedidos na vida que este tipo de empreendimentos atrai.