O regresso de Cristina Ferreira à TVI ainda vai dar muito que falar. A SIC irá para tribunal, caso não seja indemnizada por iniciativa da própria Cristina Ferreira. A SIC diz que quer 4 milhões de euros, segundo se lê no Expresso (edição online), jornal do mesmo grupo a que a SIC pertence, a Impresa.
A TVI, apesar da crise, pode ser solidária com Cristina Ferreira e pagar os 4 milhões para livrar a apresentadora de problemas judiciais. Talvez essa verba tenha entrado nas contas quando a TVI decidiu aliciar Cristina.
As contas da SIC são simplistas: dois milhões dizem respeito ao valor do salário dos dois anos de contrato não finalizado e pelo menos mais dois milhões relativos a custos paralelos, incluindo produtoras e acordos já feitos com marcas. Mas a em empresa parece não estar a fazer contas à perda de audiências. A saída da Cristina vai ser um rude golpe na liderança da SIC que foi conseguida depois da apresentadora ser contratada.
O “histórico” da SIC é não dar importância aos “publicos” de cada um dos seus jornalistas e apresentadores de programas, mas é um erro crasso. Sempre que a empresa despede ou perde um dos seus criativos com “público próprio” corre o risco de perder essa audiência. E como ver televisão é uma rotina, não é muito fácil recuperar auditório que se habituou a estar noutro canal.
A SIC revelou, igualmente, alguma fragilidade ao assumir surpresa pela forma “unilateral”, “abrupta e surpreendente”, da saída de Cristina Ferreira.
A apresentadora anunciou, entretanto, as razões para a sua decisão: vai ser nomeada diretora de entretenimento e ficção e tornar-se accionista da Media Capital (a dona do canal de Queluz). Dinheiro, muito dinheiro e pouco mais, apesar dos argumentos “projeto ambicioso”, “escolha conduzida pelo afeto”, não se vislumbra que o novo programa da apresentadora venha a ser muito diferente dos que tem feito nos últimos anos – programa da manhã, um talk-show familiar, um espaço televisivo vocacionado para gente reformada ou desempregada, donas-de-casa ou jovens estudantes.
O regresso de Cristina Ferreira à TVI aconteceu quase dois anos depois de a apresentadora ter deixado o canal de Queluz e ter assinado contrato com a SIC. O anúncio foi feito a 22 de agosto de 2018 e era então a maior transferência da história da televisão portuguesa. Além de assumir a condução de “O Programa da Cristina”, era consultora executiva da direção-geral de entretenimento do canal, liderada por Daniel Oliveira.
Antes, tinha estado desde 2004 à frente das manhãs da TVI ao lado de Manuel Luís Goucha. Cristina Ferreira encontrava-se quase no final do contrato com a estação de Queluz quando a SIC iniciou uma abordagem, tendo sido criadas condições para um entendimento.
Este regresso à TVI coloca uma questão sobre o futuro de Goucha. Se Cristina ocupar as manhãs, Goucha fica sem poiso. O seu público é aquele e ele perde eficácia noutro horário qualquer. Não sendo provável que Goucha queira ser “partenaire” de Cristina, o que fazer com ele? Giro, giro, era ele ir para a SIC.