Foi descerrada, ao final da manhã do passado dia 7, Dia do Município, a placa que, à entrada do edifício da Câmara, identifica os Paços do Concelho. Veio substituir uma outra, que mencionava ser ali o «Município de Cascais», expressão que, naturalmente, não correspondia à verdade.
Agora, em várias línguas, por ordem alfabética do vocábulo inicial, mas também, por coincidência, pela ordem de maior afluência de visitantes – espanhóis, ingleses, franceses e alemães – a placa dá conta de que é ali a sede principal do poder político-administrativo do concelho, independente de por outros edifícios estarem disseminados, na vila, departamentos e secções.
Fez questão Carlos Carreiras, na sua qualidade de presidente da Câmara, de incutir nos cascalenses a ideia de que os Paços do Concelho também eram, afinal, a sua casa. Ali se gizavam as regras do bom viver político-administrativo, económico e social, mas o espaço, quer pela sua antiguidade quer pelo halo estético que dele imanava, merecia ser usufruído por todos.
E esse desiderato foi conseguido, a 26 de outubro de 2019, com a inauguração do Museu da Vila, cujo percurso ocupa todo o rés-do-chão do edifício. Mas é possível subir à Sala das Sessões, no primeiro andar, onde podem admirar-se azulejos realizados pelo Mestre Eduardo Leite entre Maio e Novembro de 1940, com temas que, de um modo algo imaginário, se enquadram na vivência da vila de Cascais: Cascais, porto de pesca; a baía de Cascais como local de confrontos navais; Cascais aristocrática e Cascais campestre e saloia…
Nem sempre, porém, a sede da Câmara foi este palácio dos Condes da Guarda. Funcionava, antes de 1935, num outro edifício, que, embora largamente modificado no seu interior, mantém a fachada alta com torre sineira e relógio, também no Largo 5 de Outubro, do lado norte. E, em plantas do século XVI, identifica-se na praça, justamente em frente desse edifício, um círculo inscrito num quadrado: pensa-se que se trata da localização do pelourinho, que desapareceu há séculos.
Essa distinção entre Câmara e Palácio dos Condes da Guarda, está, por exemplo, bem patente numa notícia de 29 de Setembro de 1904, em que se dá conta, com todo o pormenor, da chegada da corte a Cascais e as festas de recepção ao rei D. Carlos. Aí se escreve, a propósito das iluminações à noite:
«A câmara municipal tinha a fachada iluminada com lanternas.
Das casas particulares, salientava-se, na praça D. Luiz, o chalé do sr. conde da Guarda, com 61 balões […]».
Toda a história do edifício e seu valor patrimonial (está o edifício classificado como Imóvel de Interesse Municipal, por determinação de 5 de Maio de 2006) encontra-se consignada no livro A Casa dos Azulejos de Cascais. De Palácio dos Condes da Guarda a Paços do Concelho (2009).
Não há dúvida, porém, que o que chama a atenção de quem passa é, seguramente, o conjunto de painéis que, na fachada do edifício, enchem os vãos entre as janelas do andar nobre. Os santos aí representados estão devidamente identificados e, como os classificou José Meco, estamos perante painéis «magníficos», que «marcam a passagem para o estilo neoclássico», «excelentes exemplares produzidos na Real Fábrica de Louça, ao Rato»: os quatro evangelistas (Marcos, Mateus, Lucas e João) foram pintados por Francisco de Paula e Oliveira; os restantes são de Francisco Jorge da Costa; S. João de Brito, S. Pedro e S. Paulo devem-se ao pincel de Alves de Sá, em 1969, da Fabrica Viúva Lamego.
Uma Casa que, na verdade, bem enobrece a vila de Cascais.