Na noite que passou, os sem abrigo de Lisboa voltaram a ter a visita de Marcelo Rebelo de Sousa. Mascarado e sem abracinhos e selfies, como manda a lei do distanciamento social, o Presidente da República voltou ao contacto com aqueles que nada têm e pouco recebem do Estado social.
Foi uma noite longa para Marcelo. O “passeio” começou por volta das 22h30 e só terminou de madrugada. Acompanhado por Henrique Joaquim, coordenador da Estratégia Nacional de Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, o Presidente encontrou os mesmos de sempre e novos “residentes” dos vãos de escada, novos sem abrigo que perderam o pouco que tinham com a crise provocada pela pandemia covid-19.

Marcelo calcorreou a Avenida Almirante Reis, esteve em Santa Apolónia, foi ao Cais do Sodré e a Alcântara, no fim disse estar pouco esperançado que seja possível acabar com os sem abrigo em Lisboa até 2023, a meta temporal que ele próprio tinha proposto à sociedade e ao poder político. Porventura, uma meta irrealista, logo à partida, em que poucos acreditavam.
“É com tristeza que verifico que uma nova crise vai significar ou pode significar o aumento dos sem-abrigo”, afirmou aos jornalistas, acrescentando: “Estar agora a dizer que a meta de 2023 vai ser cumprida era estar a mentir aos portugueses. Não posso dizer isto, é uma mentira, porque não sei, e muito provavelmente não pode, por muito que se faça”, disse o Presidente da República.
É certo que a Câmara Municipal de Lisboa tem em preparação a abertura de concurso público para a construção de habitação social, mas a medida será sempre insuficiente para as necessidades crescentes de cada vez mais gente que precisa de ajuda para ter uma vida digna.
No novo contexto de uma crise global devido à pandemia covid-19, Marcelo diz que o poder político e a sociedade em geral têm de fazer mais, a nova realidade, diz o Presidente “obriga a fazer um esforço maior”, e avançou com a promessa: “Até ao final do mandato, dia 09 de março às 10:00, é esse um empenho que eu tenho”. Em concreto, o que isto quer dizer, não sabemos dizer.
A visita de Marcelo aos sem abrigo aconteceu 5 dias depois de uma manifestação que reuniu dezenas de pessoas que vivem nas ruas que protestaram contra a falta de medidas concretas de auxílio. Nessa manifestação, os sem abrigo disseram que “não é só no Natal e quando há eleições que precisamos das vossas palavras de conforto. Continuamos invisíveis.”
“A rua não é uma escolha – Queremos casas” era uma das palavras de ordem dos manifestantes, escrita num enorme lençol atado às grades de segurança da escadaria da Assembleia da República montadas pelos agentes da PSP presentes no local.
