Confesso que me causa alguma urticária a dualidade de critérios na abordagem de alguns autarcas deste país a focos de pessoas contagiadas pelo covid-19.
Em Espinho, no Bairro Social da Marinha, os autarcas espinhenses acompanham o foco do COVID-19 numa família de cinco pessoas que é proprietária de um café. Todos sabemos que em zonas deprimidas urbanas, como são os bairros sociais, os cafés são espaços privilegiados de socialização entre pares.
O estabelecimento comercial só fechou na terça-feira passada e notifica-se pacificamente agora todas as pessoas que estiveram em contato com as cinco pessoas.
Entretanto, a Direção Geral de Saúde aponta já para 14 pessoas infetadas no bairro social, mas a autarquia contraria essa inflação e apenas confirma a existência de seis pessoas infetadas.
Recentemente, o autarca da Azambuja decidiu publicamente, sem autorização prévia das autoridades competentes, sugerir um cordão sanitário de segurança para o bairro social porque seis pessoas ciganas estavam infetadas com o COVID-19. E espantem-se que esse autarca “amigo dos ciganos”, ao contrário dos autarcas de Espinho, inflacionou o número de infetados de seis para nove infetados. A questão que fica é que assim teria legitimidade para o cordão sanitário?
A escassas centenas de metros do bairro social, o autarca de Azambuja tinha um número de 179 infetados no entreposto da SONAE e nunca esboçou uma tão grande preocupação ou sugeriu o fechamento do mesmo.
No Bairro da Jamaica, o foco de COVID-19 foi resolvido com notificações com armas em punho, cafés foram fechados e portas chumbadas.
Em Espinho, bastou uma volta na fechadura para fechar o café…
Em Moura, em dois dos três bairros ciganos fizeram-se cordões sanitários. Nesses bairros, sem alerta ou notificação, as pessoas foram despertadas por polícias e técnicos de saúde. Num deles, no bairro do Vale do Touro, as pessoas ficaram perplexas porque, sem aviso prévio, o presidente da Câmara de Moura os obrigou a fazer testes de rastreio e só faltou ter chamado os Rangers para forçar as pessoas aos testes. As pessoas recusaram, não porque serem negligentes, mas pelo destrato e desconsideração. Passados uns dias foram fazer os testes que, de resto, nunca consideraram desnecessários.
Não quero com isto dizer que o acompanhamento e isolamento de pessoas infetadas com o covid-19 seja uma bandalheira. É claro que as regras têm que ser cumpridas por uma questão de saúde pública, mas não consigo encontrar respostas para a dualidade de critérios na abordagem a negros e ciganos quando estes são focos de infeção do vírus.
A OMS ainda não comprovou que o vírus se propaga mais através de negros e ciganos…
Talvez o Rui Rio nos possa explicar o que se passa nestas diferentes abordagens. Talvez seja deselegância ou rudez. Racismo não será, por certo… Na sociedade portuguesa isso não existe!