Deselegância ou rudeza?!

"... claro que as regras têm que ser cumpridas por uma questão de saúde pública, mas não consigo encontrar respostas para a dualidade de critérios na abordagem a negros e ciganos quando estes são focos de infeção do vírus..."

0
1956

Confesso que me causa alguma urticária a dualidade de critérios na abordagem de alguns autarcas deste país a focos de pessoas contagiadas pelo covid-19.

Em Espinho, no Bairro Social da Marinha, os autarcas espinhenses acompanham o foco do COVID-19 numa família de cinco pessoas que é proprietária de um café. Todos sabemos que em zonas deprimidas urbanas, como são os bairros sociais, os cafés são espaços privilegiados de socialização entre pares.

O estabelecimento comercial só fechou na terça-feira passada e notifica-se pacificamente agora todas as pessoas que estiveram em contato com as cinco pessoas.

Entretanto, a Direção Geral de Saúde aponta já para 14 pessoas infetadas no bairro social, mas a autarquia contraria essa inflação e apenas confirma a existência de seis pessoas infetadas.

Recentemente, o autarca da Azambuja decidiu publicamente, sem autorização prévia das autoridades competentes, sugerir um cordão sanitário de segurança para o bairro social porque seis pessoas ciganas estavam infetadas com o COVID-19. E espantem-se que esse autarca “amigo dos ciganos”, ao contrário dos autarcas de Espinho, inflacionou o número de infetados de seis para nove infetados. A questão que fica é que assim teria legitimidade para o cordão sanitário?

A escassas centenas de metros do bairro social, o autarca de Azambuja tinha um número de 179 infetados no entreposto da SONAE e nunca esboçou uma tão grande preocupação ou sugeriu o fechamento do mesmo.

No Bairro da Jamaica, o foco de COVID-19 foi resolvido com notificações com armas em punho, cafés foram fechados e portas chumbadas.

Em Espinho, bastou uma volta na fechadura para fechar o café…

Em Moura, em dois dos três bairros ciganos fizeram-se cordões sanitários. Nesses bairros, sem alerta ou notificação, as pessoas foram despertadas por polícias e técnicos de saúde. Num deles, no bairro do Vale do Touro, as pessoas ficaram perplexas porque, sem aviso prévio, o presidente da Câmara de Moura os obrigou a fazer testes de rastreio e só faltou ter chamado os Rangers para forçar as pessoas aos testes. As pessoas recusaram, não porque serem negligentes, mas pelo destrato e desconsideração. Passados uns dias foram fazer os testes que, de resto, nunca consideraram desnecessários.

Não quero com isto dizer que o acompanhamento e isolamento de pessoas infetadas com o covid-19 seja uma bandalheira. É claro que as regras têm que ser cumpridas por uma questão de saúde pública, mas não consigo encontrar respostas para a dualidade de critérios na abordagem a negros e ciganos quando estes são focos de infeção do vírus.

A OMS ainda não comprovou que o vírus se propaga mais através de negros e ciganos…

Talvez o Rui Rio nos possa explicar o que se passa nestas diferentes abordagens. Talvez seja deselegância ou rudez.  Racismo não será, por certo…  Na sociedade portuguesa isso não existe!

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui