Carta Aberta ao ministro das Finanças

1
1366

Exmo. Senhor,

Dr. MÁRIO CENTENO

M. I. Ministro das Finanças

Exmo. Senhor Ministro,

Os meus respeitosos cumprimentos.

Li, no mesmo jornal, duas notícias que me despertaram a atenção e me levaram a escrever a V. Exa..

Dizia a primeira:

“A Caixa Geral de Depósitos vai apresentar prejuízos que rondam os 2 mil milhões de euros, o valor mais elevado da história do banco público.

O antigo presidente da Caixa, José de Matos, dizia que o ano de 2016 seria o ano do regresso aos lucros no banco público. Mas a Caixa acaba por registar os prejuízos maiores da sua história muito por força das imparidades que o banco decidiu registar no âmbito do plano de recapitalização gizado por António Domingues e que está a ser executado por Paulo Macedo.”

E a segunda:

“O presidente da Cáritas Diocesana de Lisboa, José Frias Gomes, admitiu que a instituição tem uma reserva financeira, explicando que esta se destina a assegurar financiamentos quando os valores dos donativos não cheguem para as necessidades.

José Frias Gomes reagia desta forma à notícia divulgada pelo Público, segundo a qual a Cáritas Diocesana de Lisboa tem, pelo menos há 10 anos, mais de dois milhões de euros em depósitos bancários, aos quais acrescem cerca de 320 mil euros investidos em obrigações.

Segundo o jornal, a instituição tem ainda imóveis contabilizados em quase 1,4 milhões de euros e averbou um lucro líquido de 119 mil euros em 2014 e 131.007 em 2013.”

Excelência,                                                 

Depois disto, lembrei-me de lhe escrever esta carta para lhe apresentar uma sugestão:

Porque é que V. Exa. não troca as administrações destas duas Instituições?

Os gestores da Caixa Geral de Depósitos recebem, diariamente, milhões e milhões de euros nos diversos balcões espalhados pelo país.

Alguns desses depósitos são obrigatoriamente feitos naquele banco por decisão governamental.

Sabemos que a imensa maioria desse dinheiro é entregue a ricos e poderosos como concessão de “créditos”.

No entanto, porque muita dessa gente não cumpre o contratado, essas entregas acabam por ser mais parecidas com dádivas do que com empréstimos.

No fim de cada ano o Estado tem de pagar, com “língua de palmo”, como dizia a minha avó, as más decisões dos gestores e a desonestidade dos clientes.

Já os gestores da Cáritas são muito mais cautelosos na entrega de dádivas aos pobres.

Claro que estes, é sabido, contentam-se com pouco e não são tão persuasivos como os ricos na altura de pedir dinheiro.

Falta-lhes a cultura, a apresentação (que também conta) é fraca, a linguagem é pobre, os argumentos são frágeis.

Limitam-se a falar de fome, de doenças, de necessidades primárias.

Os ricos falam de investimentos, criação de postos de trabalho, aumento das exportações.

E (há mesmo quem garanta) de comissões para os interlocutores.

Daí que as saídas de dinheiro da Caixa Geral de Depósitos sejam muito superiores ao concebível, levando a que, no fim do ano, os prejuízos atinjam aos dois mil milhões de euros.

Que todos pagaremos.

Já a Cáritas tem todo o cuidado, e contenção, na distribuição de dinheiro.

Segundo o Público, a instituição gastou, na ajuda aos pobres, em 2014, 147 mil euros, dos quais só apenas 11.314 correspondem a ajudas diretas, enquanto os donativos particulares recebidos rondaram os 325 mil euros.

Portanto, entregaram aos pobres somente um terço daquilo que a população lhes confiou para esse fim.

Um valor muito inferior ao gasto, nos ordenados dos gestores.

E eis como se pode ganhar milhões com a caridade.

Senhor Ministro das Finanças,

Será que V. Exa. já imaginou o senhor José Frias Gomes à frente da Caixa Geral de Depósitos?

O crédito malparado desapareceria pura e simplesmente.

O mais certo é que desapareceria qualquer um. Talvez com a excepção do concedido aos familiares, aos muito amigos e à Igreja.

Por sua vez os gestores da Caixa, pelos vistos uns mãos-rotas no que toca ao dinheiro dos outros, tornariam os pobres felicíssimos já que fariam o que compete a uma organização como a Cáritas e entregariam as verbas dadas, exclusivamente para esse fim, aos mais necessitados.

Ficaríamos todos felizes e seriam corrigidas duas situações absolutamente condenáveis.

Na realidade só mesmo em Portugal é que um banco do Estado pode dar prejuízo e uma organização caritativa lucro. Ambas na ordem dos milhões.

Será que só eu e que vejo isto assim?

Se for esse o caso peço desculpas a V. Exa. pelo tempo que lhe roubei.

Se o meu alerta servir para alguma coisa, e V. Exa. o aproveitar, aceitaria de bom grado um lugar na administração de uma das duas instituições ou, no mínimo, um aumentozito na minha reforma.

Creia-me V. Exa. com a mais elevada Consideração,

Vítor Ilharco

(in “Frasco de Veneno – 4ª Dose. “Frasco de Veneno” é o título genérico de uma série de livros publicados por este autor e esta crónica fará parte do IV volume (a quarta dose do veneno) que será publicado brevemente).

1 COMENTÁRIO

  1. É realmente uma boa sugestão, que apresentaste ao Sr. Ministro das Finanças, Mário Centeno. O pior é que ele é surdo, ou faz-se.
    Já lá vai o tempo em que os bancos davam lucro e as Instituições de crédito, davam tudo o que tinham. Hoje, assistimos a este paradigma em que os bancos acumulam prejuízos e, por incrível que pareça, as instituições de caridade (algumas) apresentam lucros.
    Este país está virado de “cabeça pra baixo”
    VÁ-SE LÁ SABER POQUÊ?

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui